História
Pesquisa sobre o SEEB Professor Maza
História do Sindicato dos Bancários de Sergipe
Este trabalho é uma versão modificada de artigo original publicado pelo autor no Caderno UFS - História, nº 3 de jul/1996.
01- Apresentação
Este trabalho me foi proposto pelo Sindicato dos Bancários de Sergipe através de um convênio com o Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe (UFS). No início seu objetivo direcionou-se à realização de um levantamento de fontes documentais que permitisse, em futuro próximo, escrever a história do Sindicato.
Realizada a pesquisa nos jornais diários de Sergipe dos últimos sessenta anos, chegou-se a conclusão que a publicação do material selecionado interessaria a um restrito grupo de especialistas em História e áreas afins, limitando o seu acesso a um público maior, onde incluir-se-iam os bancários.
A partir desta constatação é que resolvi aceitar, em meados de 1995, não sem relutância, o desafio de escrever a história do Sindicato dos Bancários de Sergipe. Duas razões motivaram minhas dúvidas na ocasião. A primeira a abrangência do período a ser pesquisado: o Sindicato havia sido fundado em 1934, e percorrer toda sua trajetória até os dias atuais não seria, como não é, uma tarefa fácil. O segundo motivo que me levou à indecisão foi a escassez de fontes e estudos sobre a vida sindical no Estado de Sergipe.
Os trabalhos de que tratam as atividades sindicais no Estado são poucos, o que me obrigaria, em vários aspectos, partir de um campo virgem, buscando abrir espaço por veredas estreitas e inexploráveis. A escassez de fontes tornava-se mais complicada, à medida em que me debruçava sob os “primeiros passos” dado pelo Sindicato. Para solucionar este problema teria que promover uma minuciosa, extensa e demorada pesquisa, que a falta de tempo e recursos não me permitiria. Aliado a essas dificuldades, outras de caráter profissional, contribuíam para tornar mais difícil a tarefa. O estado de crise por que passam as Universidades Públicas do país, impõe-nos, professores e alunos, a inevitável tarefa de pensar estratégias de defesa das instituições públicas de ensino superior despendendo energias além de nossas capacidades. Por várias vezes, não foi possível cumprir com prazos acordados.
O trabalho ora apresentado ao leitor não contempla a totalidade dos anos de existência do Sindicato. Trata-se de um reconstrução descritiva de alguns aspectos da sociedade sergipana, nos anos que antecederam a fundação da entidade dos bancários, e dos primeiros anos de vida da sua organização sindical. Durante a leitura do material selecionado por três alunas do curso de História da UFS e por este autor, algumas questões começaram a se apresentar como tema que deveriam ser abordados neste trabalho. A primeira delas era a estrutura financeira do Estado próximo aos anos da fundação do Sindicato. Como tratava-se de reconstrução da entidade sindical dos bancários, pareceu-me necessário buscar um visão panorâmica dos bancos instalados no Estado e quem eram seus proprietários e capitais empregados. Além disto outro fator impôs-me este tratamento: a inexistência de trabalhos sobre este assunto na historiografia sergipana. Há apenas citações esparsas e isoladas em um outro autor e não trabalhos sistematizados. A inclusão deste tema no corpo deste texto não objetiva superar esta lacuna, mas apenas levantar a necessidade de estudos deste tipo em Sergipe.
Um outro tema que urgiu de maneira irresistível foi o da cidade de Aracaju. Como maior centro político e populacional do Estado, a capital sergipana concentrava, como ainda concentra, o maior leque de atividades industriais, comerciais e de serviços. A maioria das agências bancárias estavam localizadas em Aracaju, obrigando-me a tratar da paisagem urbana por onde circulavam dos trabalhadores. Fascinava-me pensar nas ruas e praças em que transitavam os personagens que construíram a história do Sindicato em seus primeiros tempos.
A organização do mercado de trabalho mereceu também apreciações, ao serem consideradas as diversas formas de enquadramento dos trabalhadores na rotina urbana e fabril. O surgimento dos sindicatos oficiais foi entendido como tentativa racional e sistemática de parte do Estado em controlar a mão de obra. As reivindicações e formas de lutas dos bancários levantadas visaram apreender como eles se relacionaram com a estrutura sindical dos anos 30.
Alguns débitos foram inevitáveis. O primeiro é com os próprios bancários. Foi possível encontrar referência a atividades sindicais e políticas de apenas três pioneiros da criação do sindicato. Mesmo assim, me pareceram três experiências importantes para tentar compreender quem eram os bancários daquela época, quais suas posturas diante de vários assuntos. Este fato demonstra a necessidade urgente de se recuperar a memória sindical de Sergipe, através não de pesquisa documental, mas principalmente recorrendo-se à memória oral.
O outro débito foi especialmente para com as bancárias. Algumas mulheres podem pensar que apenas lembrei-me de citar a presença feminina, para nos final desqualificá-las. Não foi, com absoluta certeza, esta a intenção, mas devido única e exclusivamente à falta de dados com relação à participação feminina na vida sindical ora em apreciação.
Como todo trabalho deste tipo, devo agradecer a muitas pessoas: aos funcionários do Arquivo Público do Estado de Sergipe e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe pela simpatia e presteza no atendimento; as alunas do curso de História da UFS, Deyse, Norma (in memorian) e em especial a Eliane.... pela sua competência e dedicação à pesquisa. Aos colegas do Departamento de História da UFS por esclarecerem diversas passagens da História de Sergipe, a qual não estou ainda totalmente familiarizado.
Devo ainda agradecer aos diretores do Sindicato dos Bancários. Ao Chico por diversas informações obtidas sobre a vida do sindicato, ao Gilson e Augusto pela sensibilidade e clareza no trato com este trabalho. Também a Mônica pelas gentilezas no atendimento. A Vera e Luciana, que dispondo de pouco tempo, dispuseram-se a revisar os originais.
Por último, gostaria de dedicar este trabalho a três pessoas distantes entre si no espaço e tempo. A primeira, que nunca conheci, mas que aprendi a respeitar pelo seu passado de militância sindical, Waldemar Piedade. No seu depoimento fui pego por uma empatia, fruto da honestidade e carinho de suas palavras para como os colegas bancários. À Vera Núbia que me suportou nos dias em que estive totalmente absorvido na realização desta pesquisa. Nem sempre ela teve a atenção que merece. E por fim à razão primeira de tudo isto: Raphaela. Foi a força e a inspiração deste trabalho.
Fábio Maza. Aracaju, maio de 1996.
02- Nasce o Sindicato Sergipense de Bancários
Na noite de sábado do dia 14 de julho de 1934, no salão do Recreio Club, fundava-se o Sindicato Sergipense de Bancários. A reunião contou com a presença de 32 trabalhadores “representando grande parte da classe dos bancários.” ( Ata de fundação do Sindicato ) Os trabalhos ficaram sob a presidência de bancário Junot Barroso e secretariado por Osvaldo Rezende. Nesta mesma noite foram escolhidos, por escrutínio secreto, a diretoria provisória, tendo como presidente José Freire Pinto ( Banco do Brasil ) e secretário Waldemar Piedade Cardoso ( Banco Mercantil Sergipense ).
A primeira atividade após a escolha da diretoria foi constituir uma comissão para dar início a discussão do anteprojeto dos estatutos. Dela faziam parte além do presidente e secretário, Hermes Machado de Oliveira ( Banco Mercantil Sergipense ). Por sugestão de Luís Teixeira foi “ aprovado que o sindicato se considerasse em sessão permanente até a discussão completa e a aprovação dos estatutos.” ( O Estado de Sergipe, 17/07/1934)
O surgimento do Sindicato Sergipense foi noticiado pelos jornais diários O Estado de Sergipe , O Correio de Aracaju e O Sergipe - Jornal, além do jornal operário O Gráfico, do Sindicato dos Operários Gráfico, que deu detalhes da fundação da entidade.
Antecedeu a fundação do sindicato uma reunião no dia 26/06/1934, no mesmo salão do Recreio Club, onde compareceram “quase todos os funcionários das nossas casas de crédito.” ( Sergipe-Jornal, 27/06/1934 ) Muitos foram os incentivadores da criação do sindicato. Na sessão realizada em 14/08/1934 para eleição do presidente da comissão executiva, Junot de Carvalho Barros pede um voto de louvor para Alcindo de Carvalho Machado, por ter sido “o pioneiro” na fundação do sindicato, “o que foi por todos aplaudidos.” ( Ata do Sindicato, 14/08/1934). Waldemar Piedade Cardoso lembra vários colaboradores: “José Freire Pinto, Junot de Carvalho Barroso, Odon Porto, Hermes Nascimento, Osvaldo Rezende e Silva, José Alfredo Linhares, Virgílio Almeida, Hamilton Nogueira, Thales Vieira, Antônio Felizola, Maria Marieta Telles de Menezes e tantos outros de que no momento se omite a memória.” ( Depoimento ao Sindicato dos Bancários, 27/12/1988 )
Outros nomes são lembrados por Waldemar Piedade Cardoso, como o de José Silveira, sergipano e irmão do jornalista Joel Silveira, integrante da diretoria do Sindicato dos Bancários de Santos. A ele é atribuído o envio dos estatutos do congênere de Santos (Ata do Sindicato, 01/08/1934). Jean Etcheverry veio especialmente do Rio de Janeiro a Aracaju para trazer uma mensagem do Sindicato Brasileiro dos Bancários, “concitando os bancários de Aracaju a se organizarem - com senso unitário - o seu sindicato de classe.”(Depoimento, 27/12/1988)
O primeiro local de funcionamento do sindicato será na Rua Laranjeiras, nº23, sobrado. Neste endereço a entidade permanece até setembro de 1935, quando a sede será transferida para a Rua João Pessoa nº65 A, sala 3, estabelecendo-se neste local até meados de 1940. A primeira diretoria eleita em 14 de agosto de 1934 assim estava constituída: Presidente José Freire Pinto, 1º Secretário Waldemar Piedade Cardoso, 2º Secretário Hermes Machado de Oliveira, Tesoureiro Junot de Carvalho Barroso e outros diretores Cícero de Oliveira Sampaio, José Alfredo Linhares e Jefferson Ávila Sobrinho. (Ata do Sindicato, 14/08/1934)
A mudança do nome de Sindicato Sergipense de Bancários para Sindicato dos Bancários de Sergipe foi sugeda em telegrama enviado por José Mutti de Carvalho, presidente do Sindicato dos Bancários de Salvador, aos colegas de Sergipe. A sugestão foi discutida em assembléia no dia 01/08/1934, destinada à instalação da sede, e aprovada no dia 10/08/1934 em Assembléia Geral para aprovação dos estatutos.
Os estatutos do sindicato refletiam o caráter autoritário do Decreto nº 24.694 de 11/07/1934 que regia as instituições sindicais. Criado para liquidar qualquer possibilidade de autonomia sindical, o decreto-lei exigia “mudanças nos estatutos dos sindicatos para que fossem reconhecidos pelo Ministério do Trabalho.”( Sindicato do Bancários de São Paulo, Osasco e região, 1994) Foi “ a resposta de Vargas à pluralidade sindical.”(Sindicato dos Bancário de Florianópolis, 1995) Nos estatutos do Sindicato dos Bancários esta dependência ao Ministério fica muito clara no artigo 36 que trata das alterações do mesmo. Depois de dois anos os estatutos só poderiam ser alterado “com aprovação...do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio.”(Ata do Sindicato, 10/08/1934) Além disto, em seu artigo 3º exigia absoluta neutralidade ideológica, devendo o sindicato se abster de propaganda “de ideologias sectárias de caráter social, político ou religioso...”
Até 1923, não havia distinção por categorias entre comerciários e bancários. Legalmente até 1939 era permitido a filiação de bancários em Sindicatos de Comerciários, embora a greve nacional, em julho de 1934, “tivesse diferenciado os bancários de vez.”(Sindicato dos Bancários de São Paulo...,1994) Nos estatutos da Associação dos Empregados no Comércio de Sergipe, fundada em 25/05/1919, eram considerados sócios efetivos empregados no comércio de retalho ou por grosso, leiloeiros, corretores, adjuntos e caixeiros de despachantes, empregados de escritórios anônimos, escritórios de comissão, agência de valores, bancos, estabelecimentos fabris, empregados de trapiches.(Estatutos da Associação dos Empregados do Comércio de Sergipe, 28/09/1919)
O Sindicato dos Bancários de Sergipe não existia quando em julho de 1934 os bancários de oito estados deflagraram a primeira greve geral da categoria. Isto em certo sentido o faz herdeiro das conquistas de seus colegas de outros estados. Não obstante, não se pode desmerecer a luta destes pioneiros para implantação de diversas conquistas legais que o patronato sergipano recusava-se a obedecer. Alguns destes primeiros militantes acabaram se incorporando à estrutura sindical getulista, mas outros pagaram pela sua ousadia sendo perseguidos ou tendo que se afastar da vida sindical.
A greve de 1934, aliada à conjuntura política local, permitirá aos bancários, como a outras categorias, organizarem-se em sindicato para defesa de seus direitos. As contradições que existiram no processo de consolidação do sindicato dos bancários refletiram as dificuldades de organização política e sindical em um período da história do Brasil que significou a tentativa de construção de mecanismos de controle integral da sociedade. A atuação dos primeiros idealizadores do sindicato dos Bancários de Sergipe foi pendular, ora resistindo, dentro das possibilidades que as circunstâncias permitiam, ora sendo cooptados pelo Estado Corporativista de Vargas.
03- A racionalização do mercado de trabalho
O período posterior a Revolução de 1930 foi marcado pelo rápido desenvolvimento de organizações sindicais no Estado de Sergipe. Entre 1931 e 1934 são fundados diversos sindicatos de trabalhadores e jornais operários. A criação das leis trabalhistas e a ação do Interventor Augusto Maynard têm sido apontados por pesquisadores e historiadores sergipanos como dois fatores que contribuíram para o incremento do sindicalismo no Estado de Sergipe. Contrastando com períodos anteriores a 1930, é indiscutivél que o grau das atividades sindicais experimentaram uma significativa ampliação. O número de greves aumenta principalmente no setor da indústria têxtil.
O professor Ibarê Dantas em seu Revolução de 1930 em Sergipe, Cortez Editora-UFS - SP -1983, divide o período da interventoria Maynard em duas fases: a primeira que vai do início da sindicalização até 1933, onde os trabalhadores demostraram uma “postura reverencial” em relação ao patronato e ao Interventor do Estado; a partir de 1933 abriria-se um nova fase , quando os trabalhadores passaram a reagir contra a “influência de terceiros” fortalecendo o poder autonômo de decisão. É durante esta segunda fase que irá surgir o sindicato dos bancários.
A criação dos sindicatos oficiais e das leis trabalhistas deve ser encarada dentro da tentativa dos grupos que assumiram o poder em 1930 de construção de uma nova ordem institucional, através da racionalização o mercado de trabalho e de toda sociedade. Tratando da relação do Idort ( Institudo de Organização Racional do Trabalho) e a sociedade paulista no período de 1931 a 1945, Maria Antonieta Antonacci, em seu A Vitória da Razão, Editora Marco Zero/CNPq-SP-1993, aponta diversos mecanismos para controlar os trabalhadores que foram sendo construídos no exercício do poder de patrões e do setor público, e que desembocaram na criação de um Estado Corporativista e totalitário:
“... essa nova arquitetura fabril, conjugada à rede de poderes e sistemas de previsão e controle para vigilância integral e sem fronteira, instituíam, na sociedade paulista, novo aparato e prática de poder sustentando disposições e relações sociais para a configuração do Estado Racional-Corporativo.” p.171
Em Sergipe esta dimensão racionalizadora do mercado de trabalho e da sociedade irá aparecer em diversas praticas sustentadas pelos poderes públicos e articuladas com vários segmentos da sociedade. Um dos exemplos onde se pode observar a tentativa de construção de uma “mentalidade racional” em Sergipe acha-se claramente exposta nas palavras de Delly de Carvalho, diretor do Departamento Estadual de Estatística:
“... a presente publicação é bem um índice do mérito da... instituição que, de vitória em vitória, vencendo dificuldades de toda ordem e logrando formar entre nós uma consciência estatística, conseguiu fazer de um ideal, em tão pouco tempo, a esplêndida realidade que nos há de guiar com segurança na senda doprogredir. (Sinopse...nº 3)
Combatendo o ceticismo, dos que por falta de conhecimento julgavam as estatísticas superficiais e dispensáveis, o Departamento Estadual de Estatística visava a construção de uma “consciência estatística” para “desbravar estradas para o intercâmbio comercial e abrir novos sulcos” no caminho do progresso.
A criação de departamentos de estatíticas, de abrigo e parques infantis, cruzadas pró-infância, leis trabalhistas, etc... juntava-se a outras experiências particulares como o objetivo de enquadrar os trabalhadores no restrito quadro da ordem institucional vigente.
O fato do Interventor Maynard se aproximar dos trabalhadores, ou ainda, dos empresários resistirem a aplicação das leis trabalhistas mostra a diversidade e a dificuldade da implantação de um projeto de domínio dos trabalhadores. As greves e denúncias dos trabalhadores das péssimas condições de trabalho e desrespeito às leis trabalhistas, reforçam a idéia de que os trabalhadores não vivenciaram a nova ordem institucional de forma passiva, mas buscaram alternativas a partir de suas possibilidades e experiências.
04- Os primeiros passos
A data escolhida para a fundação do Sindicato dos Bancários de Sergipe, 14 de julho, segundo depoimento de Waldemar Piedade Cardoso, era uma homenagem à Revolução Francesa de 1789.(Depoimento , 1988 ). No período de 1931 a 1934 são fundados em Sergipe 21 sindicatos de trabalhadores, além do Partido Aliança Proletária de Sergipe. Junto destas organizações sindicais e política destacava-se o Centro Operário Sergipano fundado em 1911 com o objetivo de congregar os trabalhadores urbanos e que permaneceria existindo até 1964. (Dantas, 1983) Em 1938 havia 24 sindicados de empregados oficialmente reconhecidos, dentre os quais o dos bancários. Já os empregadores possuíam 4 entidades sindicais reconhecidas, enquanto os trabalhadores autônomos organizaram apenas um sindicato. Não há registros oficiais da constituição de organizações sindicais por parte de profissionais liberais até 1938. ( Sinopse Estatística do Estado - nº 3 , 1940 )
Desde o início de suas atividades, o Sindicato do Bancários de Sergipe mantinha farta e regular correspondência com outros sindicatos do Estado e do país. Toda reunião ou assembléia contava no expediente com a leitura de diversos telegramas e cartas enviados pelos sindicatos bancários de todo o país, mostrando que os bancários de Sergipe achavam-se ligados ao movimento nacional dos bancários. Sendo assim participaram dos primeiros passos para a instalação do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Bancários(IAPB), através de cartas e enviando delegados ao Rio de Janeiro para a renovação da diretoria.
Criado pelo decreto-lei 24.615, de 09/07/1934, o IAPB foi uma conquista da greve nacional dos bancários de julho de 1934. Visava conceder aposentadoria, pensão familiar, auxílio-enfermidade e maternidade, carteira de empréstimo e internação hospitalar a seus associados. Os recursos viriam das contribuições dos bancários, banqueiros e do Estado. Sua administração ficava a cargo de um presidente, nomeado pelo presidente da República, auxiliado por uma junta administrativa formada por três representantes dos bancários e três representantes do bancos. A duração do mandato era de três anos, com renovação anual de um terço da diretoria.
O primeiro delegado que representou Sergipe na renovação anual da diretoria do IAPB foi Waldemar Piedade Cardoso, escolhido em escrutínio secreto em Assémbleia Geral destinada a eleger um delegado-eleitor para ir ao Rio de Janeiro. Waldemar Piedade obteve 11 votos contra 7 de Heitor Dias Telles e 3 de Tarciso Rodrigues Nascimento. O secretário geral também representaria Sergipe como delegado sindical do Congresso Nacional da categoria para estruturar a primeira Confederação de Bancários. Votaram na Assembléia 21 sócios.
As viagens ao Rio de Janeiro não eram fáceis. A distância era cumprida de navio e havia um parada obrigatória em Salvador, para só depois seguir à Capital Federal. Na passagem por Salvador, muitas vez os delegados sergipanos eram recebidos com festas e gentileza pelos colegas baianos. Heitor Dias Telles quando eleito delegado, em maio de 1935, para o Congresso dos Bancários em prol do salário mínimo, que aconteceria no Rio de Janeiro, “foi recebido festivamente pelos seus colegas de classe” em Salvador. Ao jovem bancário sergipano “foi oferecido um almoço no restaurante Colon, tomando parte nesta manifestação de simpatia, os srs. Euclides Vieira, Presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, Mutti de Carvalho, Mario Paranhos e outros...”(A República, 29/05/1935)
Já Waldemar Piedade não teve a mesma sorte, foi recepcionado por autoridades militares. Saindo de Aracaju no dia 22/11/1935 chegou a Salvador 24 horas depois. Durante o percurso eclode em Natal a primeira revolta da Intentona Comunista. O navio em que viajava ficou a disposição da 1ª Região Militar da Bahia para enviar tropas ao Rio Grande do Norte, a mando do governo federal, com o obejetivo de “abafar” a sedição em Natal. Em Salvador o “indignado” bancário recebeu de volta o valor da passagem, substituindo-a por uma de outro navio, o Itaberá, “que estava com escala marcada para zarpar à noite ao Rio de Janeiro, naquela mesma data.” (Depoimento, 27/12/1988) Não sabia Waldemar Piedade que seu pesadelo mal tinha começado.
De volta à Aracaju, Heitor Dias dá entrevista ao jornal A República tecendo considerações sobre a “cidade maravilhosa” e descrevendo os resultados do congresso e sua participação. Logo após a sua chegada o bancário sergipano juntou-se aos colegas de outros estados a fim de trabalhar na emenda do anteprojeto do salário mínimo, “adaptando-a aos interesses das classes bancárias das diversas localidades.”( A República, 23/06/1935) Em seguida levaram-na à Camara dos deputados. Indagado pelo entrevistador se todos os banqueiros do Brasil eram contra o salário mínimo, Heitor Dias respondeu com cautela política e acrescentou uma informação curiosa sobre Sergipe:
“ Creio que não. Alguns devem ter evoluído. Interessam-lhes as questões sociais. Ouvi mesmo dizer que um banqueiro do nosso estado é inteiramente a favor do salário mínimo, não o pagando desde já receoso de que, amanhã ou depois, uma nova diretoria venha achar acrescida a folha de pagamento do seu banco, mas uma vez passado o projeto em questão, ele o acolherá sem menor constrangimento, ao contrário de banqueiros outros que já começam a espernear.”(A República,23/06/1935)
Que banqueiro sergipano era este é uma questão em aberto. Mesmo a informação deve ser checada, pois pode ser que Heitor Dias buscasse desarmar os espíritos dos banqueiros em Sergipe para facilitar a implantação do salário mínimo quando aprovado.
O delegado sergipano participou também da fundação da Federação Nacional dos Sindicatos de Bancários, “...sendo a mesa presidida pelo valoroso bandeirante colega Alvaro Cechinno....de São Paulo e secretariada por mim, delegado...de Sergipe.”(A República, 23/06/1935) A impressão que Heitor Dias trouxe dos colegas reunidos no Rio foi a melhor possível. “Não há palavras para traduzi-la” assim resume os sentimentos de companheirismo que reinou no congresso, em uma época que a solidariedade entre os trabalhadores ainda permanecia com sentimento nobre em meio a uma sociedade que dia a dia racionalizava suas relações de trabalho. “Sinto-me”, assim terminava a entrevista, “enorme, imensamente satisfeito em ter sido, com meu concurso, a pequenina gota d’agua daquele vastíssimo oceano de idéias...” (A República, 23/06/1935) Em cada opinião e em cada palavra, Heitor deixava transparecer um verdadeiro sentimento de carinho para com os colegas bancários de todo o Brasil. Em novembro do mesmo ano o sindicato enviaria ao Rio de Janeiro José Alfredo Linhares como representante para discutir o projeto dos Estatutos da Federação Nacional dos Sindicatos de Bancários.(Ata do sindicato, 06/11/1935)
Em Sergipe a primeira grande participação do Sindicato dos Bancários parece ter sido no 1º Congresso Unitário Sindical realizado em novembro de 1935 em Aracaju. Este congresso contou com a participação de todas as entidades sindicais da capital (Dantas, 1983) e com algumas do interior, com destaque para Maroim através do Sindicato de Fios e Tecidos e o Sindicato da Construção Civil. (Figueiredo,1989) Este Congresso marca a tentativa dos trabalhadores de tomar uma posição de independência dos sindicatos frente a tutela do Estado. Os sindicatos apresentaram teses de reivindicações, discutiram os problemas da classe, descumprimento das leis sociais e por unanimidade reprovaram a conduta do Inspetor do Trabalho em Sergipe, Luiz José da Costa Filho.(Figueiredo, 1989) Tudo isto no instante em que o país estava sobre o julgo da Lei de Segurança Nacional sancionada em 04 de abril daquele ano.
A participação dos bancários na organização do Congresso ficou a cargo de Waldemar Piedade Cardoso, que junto com José Nunes da Silva (gráfico e importante liderança operária no Estado), João Araujo e José de Souza compunham a comissão organizadora do Congresso. (Figueiredo, 1989)
05- Reivindicações, condições de trabalho e formas de lutas
Não havia um regulamento comum nos bancos que normatizasse as relações entre os bancos e seus empregados. Cada banco seguia as regrasque mais lhe conviessem. Os banqueiros “exerciam uma administração paternalista, com livre criação de normas de serviço, incentivando, dessa forma, o carreirismo e a lealdade aos patrões.” (Sindicato dos Bancários de São Paulo..., 1994)
Apesar da jornada de seis horas ser instituída em 1933, na prática o horário de trabalho era das 9 às 18 horas, com 1h.30min. de almoço. Era comum o horário se prolongar muito além deste limite, sem o pagamento de horas extras.(Sindicato dos Bancários de São Paulo..., 1994) Durante a década de 1920 o trabalho era basicamente manual. Só depois na década de 1930, é que foram introduzido os copiadores de gelatina e a escrituração à máquina.(Sindicato dos Bancários de São Paulo..., 1994) Na década de 1940 surgiram as máquinas de calcular: “...tinham máquinas manuais, máquinas elétrica não existiam... na época todos os carimbos eram de borracha...” (Entrevista, 17/04/1996)
É muito difícil determinar o número de funcionários nas agências bancárias de Sergipe nos anos iniciais de vida do Sindicato. Nos anos 40, a média por agência era de 25 empregados em São Paulo. Na fundação do Sindicato em Sergipe compareceram 32 trabalhadores, identificados pela imprensa local como sendo a quase totalidade dos bancários de Aracaju. Se dividirmos os 32 bancários pelos bancos em Aracaju - Banco Mercantil Sergipense, Banco do Brasil e Banco Federal Brasileiro, teremos uma média de 10,6 funcionários por agência. Mas este cálculo é muito frágil. Primeiro porque dias antes dos bancários criarem sua entidade fora decretada a falência do Banco de Sergipe. Waldemar Piedade refere-se aos funcionários deste banco como participantes na fundação do sindicato. Por outro lado, não há referências sobre o que aconteceu com seus funcionários depois da liquidação do banco. Logo em seguida, em setembro, seria criada outra casa bancária em Aracaju, o que dificulta mais os cálculos. Temos ainda os funcionários das caixas prediais, eram considerados bancários ? Há de se considerar ainda, a Caixa Econômica Federal que funcionava em anexa à Delegacia Fiscal em Aracaju, para efeito de cálculo. O fato é que em 1938 o sindicato possui 32 sócios quites que correspondia a 2/3 dos sindicalizados. Segundo o sr. Noylio Alves dos Santos “ o número de funcionários era razoável e o volume de trabalho de acordo com a região. O Banco do Brasil em Propriá tinha muito movimento.”(Entrevista, 17/04/1996)
As condições de trabalho não eram das melhores. Em trabalho preventivo com bancários realizado em 1935 pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo de um total de 604 examinados 64 estavam com tuberculose. A enfernidade era atribuída ao ambiente impróprio ao trabalho. A situação em Sergipe não deveria ser muito diferente. No capítulo I, artigo 2º dos Estatutos do Sindicato, achava-se expresso que uma finalidade da agremiação era “propugnar pela execução de medidas que garantam aos empregados, nos lugares de trabalho, indispensáveis condições de higiene protetoras da saúde.”(Ata do Sindicato, 10/08/1934) Além disto, no mesmo artigo, havia referência que deveria o sindicato lutar para “a supressão ou regulamentação do trabalho noturno”, o que demonstra ter sido o prolongamento da jornada de trabalho uma prática comum.
Desde cedo os bancários compreenderam que eram uma categoria nacional. A partir da primeira greve nacional em 1934, que contou com as participação de oito dos dez sindicatos de bancários existentes no país e que culminou com a conquista da estabilidade de dois anos e a criação do IAPB, este sentimento ampliou-se. Sendo assim, as reivindicações dos bancários de Sergipe eram as mesmas exigidas por outros sindicatos do país. Respeito às seis horas de trabalhos e a lei de 15 dias de férias, criada em 1926, luta por um salário mínimo, semana inglesa de trabalho(*), fim das jornadas noturnas de trabalho, fortalecimento do IAPB.
As formas de lutas empregadas pelos bancários em Sergipe variavam da denúncia ao Inspetor Geral do Trabalho sobre o desrespeito à lei por parte dos banqueiros, ao contato direto em reunião como os diretores dos bancos. Em agosto de 1937 sindicato envia carta ao Inspetor do Trabalho “pedindo para ser procedida uma fiscalização rigorosa com referência às leis de seis horas e férias, nos Bancos e Casas Bancárias deste Estado.”(Ata do Sindicato, 19/08/1937) Em outra ocasião solicitaram ao mesmo inspetor “regularidade na fiscalização das leis de seis horas e férias, na Casa Bancária Dantas, Freire & Cia Ltda.”(Ata do Sindicato, 18/11/1937)
Em agosto de 1937 a diretoria do sindicato foi conversar com os diretores do Banco dos Brasil e com os proprietários da Casa Dantas, Freire & Cia Ltda, para que fosse concedida a Semana Inglesa de trabalho(*). No caso do Banco do Brasil a resposta foi “não ser possível no momento ... alegando atuais exigências dos serviços, prometendo, no entanto, concêde-la quando se tornar possível.(Ata do Sindocato, 18/11/1937)
(*) A semana inglesa do trabalho pode ser definida: 1- “Organização do trabalho como se faz na Inglaterra, onde ao repouso dominical se acrescenta meio dia de sábado.”(Aurélio, 1995); 2- “... forma de organização do trabalho que implica, para os assalariados, um repouso contínuo da sexta-feira, após o expediênte, ou sábado depois do meio-dia, até segunda-feira de manhã.”(Houaiss, 1994)
Na mesma reunião que foi lida a carta reposta do Banco do Brasil, os presentes deliberaram voltarem a insistir junto àquelas instituições a fim de conseguir seu intento. O resultado foi que a partir de setembro a Casa Bancária Dantas, Freire & Cia Ltda. concedia aos seus funcionários a semana inglesa de trabalho. Antes disto, o Banco Mercantil Sergipense em Aracaju e a Casa Bancária Rezende, Leite Ltda já haviam resolvido atender ao pedido dos bancários. Em outubro de 1937 seria a vez do Banco de Crédito Popular de Maroim conceder a semana inglesa. Em janeiro de 1940 o diretores do sindicato estiveram na residência do Dr. Moacyr Rabelo, diretor do Banco Mercantil Sergipense para pleitear os mesmo direito para a filial em Propriá. Assim descreveram o encontro com o banqueiro:
“Fomos muito bem recebidos por aquele Sr que, com muita boa vontade assegurou-nos que concederia a ‘semana inglesa’, logo que o gerente da filial do banco...voltasse às suas funções.”(Ata do Sindicato, 30/01/1940)
Apesar das concessões formais, os bancos insistiam em descumprir as leis. Ainda em 1940 são constantes as queixas do sindicato dirigidas ao Inspetor do Trabalho, pedindo “fiscalização das leis de férias e seis horas nos estabelecimentos bancários.”(Ata do Sindicato, 10/01/1940)
Mesmo a atuação dos bancários sendo dentro dos restritos limites legais, podemos em algumas ocasiões observar uma forte tensão entre os bancários e o poder regional do Ministério do Trabalho. Isto fica claro quando a diretoria do sindicato em janeiro de 1938 envia carta à 10ª Inspetoria Regional do Trabalho solicitando fiscalização na Casa Bancária Rezende que insistia em desrespeitar as leis de férias e de seis horas. Assim a mesa narrou o procedimento do representante do Ministério do Trabalho em Sergipe:
“... o Sr. Inspetor Regional em vez de ir ou mandar fiscalizar o cumprimento das referidas leis, chamou os chefes da Casa Bancária...ao seu gabinete particular e lhe ensinou o meio de defenderem-se da nossa justa denuncia.”(Ata do Sindicato, 04/01/1938)
Continuando a descrição, o bancário Antônio Menezes diz ter sido coagido, juntos com outros funcionários do Banco, a assinarem um “documento dizendo que as leis em apreço” eram cumpridas, declarando ainda que “ele e os demais assinaram o tal documento, evitando... o choque entre empregados e empregadores preparado pelo Sr. Inspetor Regional.” (Ata do Sindicato, 04/01/1938) Como resposta a este ato de coação, os bancários remeteram ao Ministro do Trabalho uma cópia da ata e solicitaram providência “para que seja mantida na 10ª Inspetoria Regional a decência que aquela repartição requer.”(Ata do Sindicato, 04/01/1938)
Os limites da ordem institucional impostas ao país, a partir do fracasso da Intentona Comunista emnovembro de 1935 e ampliados pelo golpe de Getúlio em novembro de 1937 foram decisivos para marcar a atuação sindical dos bancários. A falta de liberdade política, aliada ao desânimo da maior parte da categoria serviram de base para que muitas vezes o Sindicato dos Bancários de Sergipe pendesse para o adesismo ao regime de Getúlio Vargas, mas não foram suficientes para apagar completamente as tensões existentes entre bancários, de um lado, e patrões e Estado de outro.
06- Os personagens
“Os filhos deles, meu amor, tem tudo:Bonecas, jóias e brinquedos finos...Envolvidos na renda e no veludoSão belos, intangíveis e divinos...E tu, meu filho, assim quase desnudoAo léo exposto à fúria dos destinosNão tens ao menos um sapato Para os teus pés gelados e franzinosMeu filho, dorme neste rude braçoCheio de calor e de cicatrizesMas que nunca vergou-se de cansaçoEspera, filho, espera um pouco mais,Todos os lares hão de ser felizesTodos os braços hão de ser iguais...”
(Djalma Andrade)
Escrever a história do Sindicato dos Bancários de Sergipe significa antes de mais nada reconstruir a trajetória dos bancários que lutaram por sua criação. Esta tarefa não é fácil, pois as fontes e depoimentos que nos permitiriam visualizar quem eram esses bancários, como eram vistos pela sociedade e como se viam a si mesmos, são relativamente escassos.
O poema citado foi escrito por um bancário e comentado por Heitor Dias Telles em A República, em 01/05/1935, dia do trabalhador. Seu estilo dramático deixa antever as diferenças que separavam banqueiros e bancários. Externam um desejo de felicidade e igualdade entre todos os trabalhadores e que de maneira geral encontrava-se presente no íntimo dos pioneiros na criação do sindicato. Parafraseando Fernando Pessoa (*), o comentarista afirma ser o poeta um sonhador. Um sonhodor que como seus senhos transforma a realidade:
O poeta é um sonhador. Mas existem sonhos que se transformam em realidade... Não uma igualdade de berços como sonhou o poeta, mas para uma grande melhoria dos mesmos. (A República, 01/05/1935). Heitor Dias Telles não perde a oportunidade de defender a necessidade da existência do sindicato e os benefícios criados pela conquista do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Bancários.
Os bancários eram bem vistos pelas pessoas de seu tempo. Possuíam destaque na sociedade e de um modo geral um salário superior a outras categorias. Isto não quer dizer que sua condição (*) Fernando Pessoa em seu poema Autopsicografia afirma ser o poeta um fingidor. “O poeta é um fingidor/ Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/A dor que deveras sente.” fosse privilegiada, mas diferente de outras categorias profissionais. Os funcionários dos bancos eram respeitados pela sociedade: “...eram todos dedicados...havia destaque do funcionário, homens de linha, destacados e respeitados.” (Entrevista, 17/04/1996) Talvez o que contribuísse para a construção desta imagem na mentalidade coletiva, dentre outras coisas, fosse a maneira como se vestiam: “Vestiam-se muito bem, na época todo funcionário usava gravata, só com exceção dos contínuos, assim mesmo não usavam paletó mas apenas gravata.”(Entrevista, 17/04/1996) Este fato era motivo de constantes queixas dos bancários que tinham que despender parte de seus salários para manter a boa imagem.
A participação dos bancários nas atividades do sindicato parece ter variado conforme as circunstâncias. Depois das primeiras entusiásticas reuniões para discutir a fundação e a organização dos Estatutos haverá um refluxo na participação. Heitor Dias Telles queixa-se da falta de participação de seus colegas na vida sindical:“Infelizmente não pensam assim os nossos colegas no Banco do Brasil. Não comparecem as nossas reuniões, não se interessam pelas cousas (sic) que nos dizem respeito.”(A República, 12/02/1935)
Heitor Dias Telles foi um grande batalhador na construção do sindicato. Através de uma coluna mensal no jornal A República, conclamava seus companhiros a se engajar na luta pelo reconhecimento do Sindicato dos Bancários,pelo salário mínimo e pela melhoria geral na vida dos bancários. Funcionário do Banco Mercantil Sergipense foi o segundo presidente do sindicato no período de junho 1937 a junho de 1938, quando foi substituído por José Alfredo Linhares, passando a ocupar a 1ª secretaria.
Talvez a figura mais fascinante entre os pioneiros do sindicalismo bancário em Sergipe seja a de Waldemar Piedade Cardoso. Foi com certeza o bancário de maior envolvimento político de seu tempo, possuindo um história de anos de militância no sindicalismo. Além de ser o primeiro secretário geral do sindicato e de ter participado da comissão organizadora do 1º Congresso Unitário Sindical, Waldemar Piedade foi também membro ativo do Diretório Estadual Provisório da Aliança Nacional Libertadora(ANL) em Sergipe, organização que tinha Luís Carlos Prestes como presidente de honra. Iniciou sua vida sindical como secretário da Associação dos Empregados do Comércio, quando ainda os bancários pertenciam a categoria dos comerciários.
Em novembro de 1935 quando embarca com destino ao Rio de Janeiro, onde iria participar como delegado-eleitor da renovação do 1/3 da direção do IAPB e como delegado do Congresso Nacional dos Bancários, Waldemar depois dos atropelos em Salvador, zarpa no Itaberá, na noite de 23/11/1935, rumo à antiga capital federal. Durante a viagem ele não imagina que a sedição em Natal havia se ampliado ao Rio de Janeiro com a revolta do 3º RI. O movimento contava com a adesão de oficiais da Aeronáutica e da Marinha de Guerra e de inúmeros sindicalistas e intelectuais ligados a ALN. Ao chegar ao Rio, Waldemar Piedade foi preso e conduzido com outros passageiros `a chefatura de polícia, sendo três dias depois transferido para a cadeia da rua Frei Caneca onde permaneceu “mais ou menos três meses” (Depoimento, 27/11/1988)
A repressão que se seguiu à Intentona Comunista em novembro de 1935 foi uma das mais terríveis da história do Brasil. Agindo acobertada pelo estado de sítio, a polícia no Rio de Janeiro entre 25/11/1935 a 15/03/1936 investigou 3250 pessoas, realizou 441 buscas domiciliares - as casas eram invadidas a qualquer hora do dia e da noite, sem mandatos e ameaçando-se seus moradores - e 901 prisões de civis e 2146 de militares. Torturas, estupro, violação de correspondências, a polícia “primeiro agredia para interrogar depois.”(Sodré, 1986)
O número de presos foi tão grande que o maior navio do Loide Brasileiro, o Pedro I, transformou-se em prisão. Os prisioneiros - operários, soldados, escritores, professores, líderes bancários, comerciários, sindicalistas e políticos - eram todos os dias submetidos a “interrogatórios e torturas das mais bárbaras formas.”(Sodré, 1986) Na prisão, Waldemar Piedade lembra ter conhecido Spencer Bittencourt, José Couto, Olympio de Mello e vários líderes bancários. Da rua Frei Caneca, eles foram transferidos para o “navio-presídio” Pedro I e “dali, numa odisséia final para o presídio medieval, seção denominada ‘Capela’” (Depoimento, 27/12/1988) O nome do presídio não foi revelado por Waldemar Piedade, mas provavelmente ficava na Ilha Grande, onde esteve preso o escritor Graciliano Ramos. Waldemar Piedade permaneceu “um ano e um dia” no cárcere.
O golpe fracassodo fez com que o governo federal promovesse vários expurgos no congresso e sindicatos. Em São Paulo, a direção do Sindicato dos Bancários, sob a influência dos comunistas, renuncia procurando evitar a intervenção do Ministério do Trabalho. Com a prisão de Waldemar Piedade, o Sindicato dos Bancários de Sergipe sofre sua primeira divisão. Pedida sua exclusão dos quadros associativos da entidade pelo Inspetor Geral do Trabalho, um diretor e o presidente pedem demissão do cargo. A outra parte da direção acata o pedido do representante regional do Ministério do Trabalho.
Em 1940, depois de concurso de provas, onde obtém “ o primeiro lugar em Vitória” é admitido como escriturário no Banco Hipotecário e Agrícola do Estado de Minas Gerais, em Cachoeira do Itapemirim(ES). Neste banco redige memorial sobre a situação dos bancários que servirá para convencer a direção central a melhorar o salários em todas as suas agências do país. Em junho de 1943 foi nomeado funcionário do Banco do Intercâmbio Nacional S/A no Rio de Janeiro, onde trabalhou até 26/04/1950 quando foi demitido por participar da greve nacional de 16 dias e por atuar como integrante da comissão sindical interna do banco.(Depoimento, 27/12/1988)
Socialista convicto, Waldemar Piedade participou da campanha “O Petróleo é Nosso” na década de 50 e mais recente teve a oportunidade de “dar uma mãozinha...para a conterrânea nordestina” Luiza Erundina, quando esta foi eleita prefeita da cidade de São Paulo.
Outro bancário com atuação intensa na cidade de Aracaju foi o primeiro presidente do sindicato, o sr. José Freire Pinto. Ele foi o principal idealizador e organizador do 1º Salão Misto de Artes. Realizado em Aracaju em setembro de 1934, o salão contou com a participação de mais de 20 expositores. Durante quase todo o mês pintores, escultores, arquitetos, desenhistas, cartógrafos, inventores, marceneiros - a maioria amadores - tiveram a oportunidade de mostrar mais de duzentos trabalhos aos moradores da cidade. A exposição provocou forte aprovação merecendo reportagens na imprensa local.
José Freire Pinto possuía uma razoável articulação intelectual, a ponto de não só ser o inspirador da exposição, mas formular propostas de incentiv