Notícias

Bancárias seguem na luta por igualdade salarial

Dieese: a cada quatro trabalhadores de TI nos bancos, apenas um é mulher

 

O Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, as bancárias têm o que comemorar e o que lamentar. Se por um lado, as mobilizações históricas na luta por direitos tornaram a categoria uma das mais fortes do país, por outro, as mulheres bancárias, mesmo exercendo as mesmas funções que os homens no setor, seguem com salários menores e baixa representatividade nos cargos de liderança.

 

É o que revela levantamento mais recente feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base nos dados estatísticos de 2023 da Rais (Relação Anual de Informações Sociais), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

 

As mulheres no setor bancário recebem, em média, 80,9% dos salários dos homens, ou seja, remuneração cerca de 19,1% inferior em relação à remuneração dos colegas.

 

Com o recorte racial, o cenário fica ainda mais injusto: mulheres bancárias negras (pretas e pardas) têm remuneração média 34,5% inferior à média do homem bancário branco.

 

Considerando a série histórica, no período de 2001 até 2023, o Dieese revela ainda que houve pouca evolução para o fim da desigualdade salarial entre mulheres e homens: em 2001, elas recebiam, em média, 78,3% da remuneração paga aos homens do setor. Em outras palavras, tinham o salário 21,7% menor em relação aos homens bancários.

 

Nos cargos de liderança

A distorção racial e salarial se reflete nos cargos de liderança. As mulheres negras então em apenas 10,3% dos cargos mais elevados, considerando todos os bancos. E mais, na faixa de liderança, enquanto o salário médio dos bancários homens brancos é R$ 19.148, dos homens negros é R$ 12.109, das mulheres brancas de R$ 14.079 e, por fim, o das mulheres negras de apenas R$ 9.840.

 

Em outros termos, nos cargos mais elevados dos bancos, as mulheres brancas recebem 74% dos salários dos homens brancos, os homens negros recebem 63% dos salários dos homens brancos e as mulheres negras 51% da remuneração dos colegas brancos, ainda que exercendo as mesmas atividades e com as mesmas responsabilidades.

 

Redução de mulheres no setor

Entre janeiro de 2020 e maio de 2024, houve redução de 11.514 postos. Porém, ao fazer o recorte de gênero, o Dieese constatou que o saldo positivo de emprego bancário entre homens foi de 1.331 postos, enquanto que para as mulheres, foram eliminados 12.845 postos. Portanto, a cada homem contratado no período, nove mulheres foram desligadas.

 

Na área de Tecnologia da Informação (TI), a que mais cresce em contratações nos bancos, também foi identificada a queda na participação feminina. Em 2012, os trabalhadores de TI (homens e mulheres juntos) representavam 5,1 do total de bancários. Em 2023, essa proporção passou para 12%. No entanto, a proporção de mulheres na TI dos bancos passou de 31,9%, em 2012, para 25,2%, em 2023. O que significa que, para cada quatro trabalhadores nesta área, apenas um é mulher.

 

 

Motivos pra comemorar

Apesar do cenário, nos últimos 20 anos, as mulheres bancárias tiveram grandes avanços trabalhistas, sendo os principais:

 

• 2000: inclusão do tema igualdade de oportunidade nas mesas de negociação

• 2009: licença-maternidade de 180 dias e extensão de direitos aos casais homoafetivos

• 2010: inclusão da cláusula que criou o programa de combate ao assédio moral

• 2016: licença-paternidade de 20 dias

• 2020: programa de prevenção à violência doméstica e familiar contra bancárias, incluindo a criação de canais de acolhimento, orientação e auxílio às mulheres em situação de violência doméstica e familiar

• 2022: cláusula que criou o programa de combate ao assédio sexual

• 2024: conquista cláusula que garante mais de 3 mil bolsas de estudo para mulheres na TI; e criação da “Negociação Nacional sobre Assédio Moral, Sexual e Outras Formas de Violência no Trabalho Bancário” e que resultou em novas cláusulas na CCT para enfrentar os temas.

 

Fernanda Lopes, secretária da Mulher da Confederação Nacional dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), lembra que a categoria conseguiu, na última renovação da CCT, o compromisso dos bancos de promoverem a igualdade salarial e de oportunidade entre homens e mulheres.

 

“No Brasil, considerando todo o mercado de trabalho, as mulheres recebem em média 20% menos que os homens. Então, esse é um debate antigo no movimento sindical. Por conta disso, em março de 2023, conseguimos que o presidente Lula sancionasse a Lei de Igualdade Salarial entre gêneros. Em relação somente à nossa categoria, conquistamos ainda, no ano passado, a inclusão da igualdade salarial na CCT. Então, os próximos passos são a continuidade desta luta, para que ocorra o fim desta distorção histórica o mais breve possível”, reflete.

 

Em relação à participação de mulheres na liderança, Fernanda cita que o Banco do Brasil, por exemplo, já possui um plano estruturado e de promoção à diversidade nos cargos superiores. Dados mais recentes divulgado pelo banco público mostram que os cargos de liderança ocupados por mulheres passaram de 24,52% no 2º trimestre de 2023 para 26,22% no 1º trimestre de 2024.

 

“Esse tipo de ação promovida pelo BB serve como exemplo para que outros bancos implementem programas semelhantes”, observa a dirigente sindical.

 

Cursos Mais Mulheres na TI

Sobre a queda da participação de mulheres no setor de TI dos bancos, Fernanda ressalta que a categoria conquistou o compromisso das empresas de investirem em bolsas de estudo para a promoção delas no mercado da tecnologia.

 

“Nesta segunda-feira, 10, vamos divulgar oficialmente os links para as inscrições. São cursos gratuitos e que as candidatas não precisam ter conhecimento prévio de TI para iniciar. Serão, ao todo, 3.100 bolsas pagas pelos bancos, em duas escolas especializadas na formação de mulheres, com o foco em mulheres negras, LGBTQIA+, mães e responsáveis e mulheres trans e travestis”, explica a dirigente sindical.

 

 

A importância dos dados na reivindicação de direitos

Juvandia Moreira, coordenadora do Comando Nacional dos Bancários e presidenta da Contraf-CUT, avalia que a série de avanços está relacionada ao modo de atuação e articulação do movimento sindical, e que conta com o apoio de estudos como os que são realizados periodicamente pelo Dieese.

 

“A realidade mostra que os desafios para alcançar a plena igualdade salarial, de oportunidades e de representatividades no mercado de trabalho bancário ainda estão aí. Por isso é que nós reforçamos esta pauta não só no mês de março, por conta das comemorações do Dia Internacional da Mulher, mas durante todos os meses do ano, com informações estruturadas, sem às quais não teríamos os argumentos necessários para reivindicar melhorias e direitos aos bancos”, pontua.