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Saúde mental em foco: 2º Seminário do SEEB/SE reúne categoria
André Guerra aborda sobre "A servidão voluntária na categoria bancária: como o sistema financeiro captura e molda pensamentos, comportamentos e emoções"
O Sindicato dos Bancários de Sergipe (SEEB/SE) realizou o 2º Seminário sobre Saúde Mental, um evento que reforçou a importância de discutir o bem-estar emocional da categoria. Com mais de 200 inscritos, a presença significativa de bancários de diversas instituições financeiras destacou a relevância e a urgência do tema. O Seminário aconteceu no último dia 30 de novembro.
A mesa de trabalho foi conduzida pelo presidente e pelo secretário de Saúde do SEEB/SE, respectivamente Adilson Azevedo e Halim Mauad, e contou ainda com a participação da secretária de Saúde da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe (Feebbase), Andrea Sabino. Um dos momentos mais marcantes foi a palestra com o doutor e mestre em Psicologia Social, André Guerra, que apresentou uma análise contundente sobre os mecanismos de controle e exploração utilizados pelo sistema financeiro. Especialista em patologias mentais laborais, Guerra destacou como os bancos moldam a subjetividade dos trabalhadores, criando um ambiente que combina pressão, conformidade e adoecimento.
A gestão que seduz e explora
Segundo Guerra, o sistema bancário investe fortemente em estratégias de gestão que buscam a adesão emocional dos trabalhadores. Termos como “vestir a camisa” e “atitude de dono” reforçam a ideia de uma relação horizontal entre funcionários e acionistas, mascarando a exploração. "Os melhores servos são aqueles que se sentem livres", afirmou o especialista, ressaltando como essas práticas convencem os bancários de que estão em uma posição de protagonismo, enquanto, na verdade, são explorados.
O medo como ferramenta de controle
A violência simbólica no ambiente bancário, marcada pelo medo constante de demissão, metas inatingíveis e pressão por resultados, cria um ciclo de submissão. Guerra destacou que esse medo humilha e fragiliza os trabalhadores, que acabam aceitando condições prejudiciais como forma de evitar essa sensação. "Tudo aquilo que aparece como benéfico, mas é objetivamente prejudicial, será aceito, pois alivia o medo", explicou.
Adoecimento ético e conformidade
O especialista também apontou a pressão por resultados como um fator que anestesia o pensamento crítico, levando ao “adoecimento ético”. Os bancários são condicionados a alcançar metas sem questionar sua relevância ou impacto, muitas vezes vendendo produtos de baixa qualidade. Essa falta de reflexão gera conformidade, que adoece tanto quem aceita as condições quanto os colegas que compartilham o ambiente.
Redes sociais como extensão da pressão
Outro ponto abordado foi o papel das redes sociais na captura da subjetividade dos bancários. A necessidade de socializar e projetar uma imagem de sucesso acaba reforçando a conexão com o trabalho e o medo de fracassar. “O banco se torna o universo dos bancários, e as redes sociais amplificam essa dependência emocional e profissional”, disse Guerra.
Reflexão e mudança
A palestra de André Guerra trouxe à tona questões fundamentais sobre saúde mental e condições de trabalho no setor bancário. O evento reafirmou o compromisso do Sindicato dos Bancários de Sergipe em defender os direitos e o bem-estar da categoria, promovendo debates que inspirem mudanças no ambiente laboral.